Professor da Unicamp atuou em relatório usado na trama golpista para questionar urnas eletrônicas, diz PF
28/11/2024
Apesar de documento ter sido divulgado à imprensa, diálogo extraído de um celular mostra docente reconhecendo a interlocutor do PL que não encontrou irregularidades no segundo turno das eleições 2022. Procurado pelo g1, professor disse que não tinha nada a declarar sobre citação em relatório da PF. Professor Paulo Licio de Geus, do Instituto de Computação da Unicamp
Reprodução/ redes sociais
Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) no inquérito que investiga a tentativa de Golpe de Estado no Brasil mostram que o professor Paulo Lício de Geus, do Instituto de Computação da Unicamp, atuou na elaboração e revisão do relatório usado pelo Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, para questionar a integridade das urnas eletrônicas.
O relatório foi apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, em 22 novembro de 2022 e, segundo a PF, apresentava alegações falsas sobre possíveis fraudes nas urnas eletrônicas no segundo turno do pleito. À época, o TSE multou o partido em R$ 23 milhões por não apresentar provas de irregularidades no sistema eleitoral.
De acordo com a investigação, esse núcleo da organização criminosa, o "Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral", era responsável por incitar a população contra o resultado das eleições presidenciais de 2022 e, assim, abrir caminho para eventuais medidas antidemocráticas contra a Justiça Eleitoral.
Mensagens recuperadas pela PF mostram ligação do professor Paulo Geus e Eder Baldino na elaboração de relatório que questionava integridade das urnas
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Trocas de mensagens, contudo, mostram que, três dias antes do relatório do PL ser divulgado, o professor reconheceu que havia encontrado explicação para alegações sobre o suposto funcionamento irregular das urnas eletrônicas. E, além disso, Geus afirmou categoricamente que, após analisar um pedido de Costa Neto, não encontrou urnas com votação anormal no segundo turno de 2022.
"VCN (Valdemar Costa Neto) queria também relação de urnas com votação anormal em horários estranhos, mas no 2T (2ºturno) descobri que isso praticamente não existe (se tanto, algumas poucas urnas)", mostra mensagem obtida pela PF
O g1 conversou com o professor Paulo Geus por telefone, mas o docente se limitou a dizer que não tinha "nada a declarar" sobre as citações no inquérito da Polícia Federal.
Informações para o argentino
Paulo Geus não foi indiciado. O relatório final da,PF no entanto, aponta que o professor abasteceu influenciadores, como Fernando Cerimedo, blogueiro argentino indiciado no inquérito, de informações falsas sobre as urnas eletrônicas. "O argentino acho que não entendeu português, então mandei em inglês agora", diz uma mensagem do professor obtida pela investigação.
Professor abasteceu blogueiro e interlocutor da PF de questionamentos falsos sobre as urnas eletrônicas
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Além disso, o professor enviou a Éder Balbino, empresário que ajudou nos questionamentos do PL às urnas, apontamentos sobre o suposto funcionamento irregular dos logs (registro de dados) do sistema eletrônico de votação.
"O conteúdo das mensagens ratifica a atuação coordenada dos membros da organização criminosa, evidenciando que as pessoas que estavam trabalhando para o IVL e o PL, também abasteciam com informações falsas influenciadores, como o argentino Fernando Cerimedo, para propagarem fake news sobre as urnas eletrônicas, no sentido de incitar a população contra o resultado das eleições presidenciais de 2022", aponta a PF.
Quem é o professor?
Paulo Lício de Geus é professor titular do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo a página da universidade, ele atua no Departamento de Ciências de Computação e é especialista em segurança computacional.
Em nota, a Unicamp afirma que tomou conhecimento dos fatos nesta quarta-feira (17) pela imprensa e que "segue acompanhando atentamente os desdobramentos da investigação conduzida pela Polícia Federal".
Trama golpista
Lista de indiciados pela PF no inquérito sobre golpe
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O relatório da Polícia Federal (PF), que teve sigilo retirado nesta terça-feira (26) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), descreve a participação de citados e indiciados no "inquérito do golpe" a partir de seis áreas de atuação.
O conteúdo da investigação foi enviado ao Supremo na última quinta-feira (21) e indicia 37 pessoas por envolvimento na suposta trama golpista, com o objetivo de impedir que o presidente Lula (PT) tomasse posse, após ser eleito em 2022.
Segundo o documento, os envolvidos no suposto esquema de ataque ao sistema democrático atuaram nos seguintes núcleos:
Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e apoio a Outros Núcleos
Núcleo de Inteligência Paralela
Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas
Núcleo Jurídico
Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado
Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral
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